A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicou na semana passada um relatório que causou certo alvoroço: “Insectos comestibles. Perspectivas de futuro para la seguridad alimentaria y la alimentación”, onde recomenda o consumo de insetos para dar de comer a um número cada vez maior de pessoas. Porém, acabar com a fome no mundo passa por começar a consumir insetos ou tornar accessível a comida às pessoas? Acho mais plausível a segunda opção.
Esther Vivas
Esther Vivas
Os debates que, atualmente, giram ao redor da proposta da FAO em meios de comunicação diversos são feitos com clara visão etnocêntrica do que comemos, associando o consumo de insetos a um comportamento primitivo, como se nós tivéssemos a verdade absoluta sobre o que se pode e não se pode comer. Me pergunto: O que pensarão em outros países dos caramujos ao molho, do coelho assado, da paella, coelho com caramujos…? Creio que mais de um centro europeu não aguentaria nem dois minutos na mesa, imaginando seu coelho mascote cozido como bisteca e rodeado de moluscos babosos.
Acabar com a fome passa por exigir justiça e democracia nas políticas agrícolas e alimentares. E devolver aos povos a soberania alimentar, a capacidade de decidir sobre o que e como produzir, distribuir e consumir. Antepor direitos a privilégios. E apostar em outro modelo de agricultura e alimentação: de proximidade, camponesa, agroecológica… Somente assim todo mundo poderá comer.
Esther Vivas, Colaboradora Internacional do Portal EcoDebate, é ativista e pesquisadora em movimentos sociais e políticas agrícolas e alimentares, autora de vários livros, entre os quais “Planeta Indignado”. Esther Vivas é licenciada em jornalismo e mestre em Sociologia. Seus principais campos de pesquisa passam por analisar as alternativas apresentadas por movimentos sociais (globalização, fóruns sociais, revolta), os impactos da agricultura industrial e as alternativas que surgem a partir da soberania alimentar e do consumo crítico.
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