Segundo o presidente Barack Obama, em nome de sua autodefesa, os EUA precisam da CIA - ou seja, uma força paramilitar -, dos ataques com drones - que, em essência, são missões de assassinatos internacionais -, e da espionagem em todos os cantos do mundo e dentro do país. Mas por que será que ainda nos sentimos tão inseguro com tanta segurança?
David Brooks
David Brooks
Entretanto, a vigilância oficial de comunicações pessoais – telefone, correio eletrônico, redes sociais e outras – continua ampliando-se. O escândalo que estourou recentemente com a revelação de que o Departamento de Justiça, ao investigar possíveis filtrações de informação "secreta" por funcionários oficiais, obteve de maneira clandestina os registros de comunicações telefônicas de uns 100 jornalistas e editores da principal agência de notícias do país, a Associated Press, é só um exemplo da nova "vigilância" cujo alcance e dimensões são secretos.
Isto favorece todo o tipo de interesses como, por exemplo, os defensores do "direito" sagrado às armas. Wayne La Pierre, principal porta-voz da Associação Nacional do Rifle insiste que, se todos os cidadãos estivessem armados poderiam deter atos como os que ocorreram na maratona de Boston, e que a tentativa de controlar este direito é nada menos que uma ameaça à liberdade. Na luta contra o controle de armas, insistiu recentemente na convenção desta poderosa agrupação: "temos uma oportunidade de assegurar nossa liberdade por uma geração, ou perde-la para sempre".
Enquanto isso, há alguns dias foi dada a notícia de que um menino de 5 anos havia disparado e matado sua irmã, de 2 anos de idade. Pior ainda, havia utilizado seu próprio rifle, um de calibre .22, manufaturado justamente para crianças, que lhe haviam presenteado no seu aniversário e que se comercializa com o lema "meu primeiro rifle". O setor de menores de idade foi um dos de teve maior crescimento na indústria de armas de fogo, já que em muitos estados não existem leis que imponham um limite de idade para os usuários.
Mas, diante das ameaças, mesmo as representadas pelos que realizam chacinas de estudantes e professores em escolas, como em Connecticut, Colorado, Oregon e tantos lugares mais, toda tentativa de reduzir ou limitar as armas e, claro, as guerras, são consideradas não só antipatrióticas, mas até traidoras.
Na investigação e ação penal contra qualquer que se atreva a botar frente à luz os segredos oficiais necessários para levar a cabo estas guerras de sombras se destaca, claro, o caso do Wikileaks, com o julgamento do soldado Bradley Manning programado para o começo de junho, acusado de, entre outras suspeitas, "ajudar o inimigo" ao tornar públicos segredos sobre as guerras dos Estados Unidos. Muitos outros funcionários e jornalistas estão sendo investigados por filtrar informação "oficial" secreta ao público, com as mesmas acusações; de fato, nenhum outro governo na história moderna do país realizou tantas investigações nesse item que o de Obama.
E quem se oponha publicamente também é suspeito e tem que ser castigado. Há algumas semanas, Megan Rice, uma freira de 83 anos, foi condenada penalmente, junto com Michael Walli, de 64 e Greg Boertje-Obed, de 56, por "invasão de uma instalação nuclear", e agora enfrentam uma possível sentença de até 20 anos de cadeia. Seu delito: o ingresso dos três ativistas de paz na única instalação do país que armazena armas convencionais radioativas, onde salpicaram sangue humano como símbolo do sangue que corre nas guerras (nunca chegaram perto do material nuclear). Rice comentou ao jurado, pouco antes de ser condenada, que só se arrepende de não ter realizado mais ações diretas em seus primeiros 70 anos de vida.
Por que será que nos sentimos tão inseguro com tanta segurança?
Tradução: Liborio Júnior
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